“O homem americano típico consagra mais de 1500 horas por ano ao seu automóvel: sentado dentro dele, em marcha ou parado, trabalhando para o pagar, para pagar a gasolina, os pneus, as portagens, o seguro, as multas e os impostos para as estradas federais e os parques de estacionamento comunais. Dedica-lhe quatro horas por dia, nas quais se serve dele, se ocupa dele ou trabalha para ele. Não se levaram aqui em conta todas as suas atividades orientadas pelo transporte: o tempo que consome no hospital, no tribunal ou na oficina; o tempo passado diante da televisão a ver publicidade automobilística, o tempo gasto em ganhar dinheiro para viajar de avião ou de comboio. Com estas atividades faz, sem dúvida, marchar a economia, procura trabalho para os seus companheiros, receitas para os xeiques da Arábia, e dá justificação a Nixon para a sua guerra na Ásia. Mas se nos perguntarmos de que modo aquelas 1500 horas, que são uma estimativa pelo mínimo, contribuem para a sua circulação, a situação apresenta-se-nos sob diferente perspectiva. Aquelas horas servem-lhe para fazer uns 10 000 quilômetros de percurso, ou sejam 6 quilômetros por hora. É exatamente o mesmo que conseguem os homens nos países que não dispõem da indústria do transporte. Mas, enquanto o Norte-Americano dedica à circulação uma quarta parte do tempo social disponível, nas sociedades não motorizadas destinam-se ao mesmo fim entre 3% e 8% do tempo social. O que diferencia a circulação num país rico e num país pobre não é uma maior eficácia, mas sim a obrigação de consumir em altas doses as energias condicionadas pela indústria do transporte.”
Ivan Illich, “Energia e Equidade” (dezembro/1973), página 36 na tradução da Editora Sá de Costa (1ª edição, Portugal, 1975)