Opinião pública

Encontrei esta passagem de Goethe no estrategema 30 do excelente “A arte de ter razão”.

Dico ego, tu dicis, sed denique dixit et ille:
Dictaque post toties, nil nisi dicta vides.

Ou para os ignorantes entre nós que não lêem latim:

Eu o digo, tu o dizes, mas, ao final aquele também o diz:
Depois que o disseram tantas vezes, não se vê outra coisa a não ser o que foi dito.

Lido durante a aula de matemática…

A arte de ter razão

  • Autor: Arthur Schopenhauer, com organização e ensaio de Franco Volpi
  • Editora (no Brasil): Martins Fontes
  • Páginas: 116
  • Sinopse: Este pequeno tratado, verdadeira pérola oculta nos escritos póstumos de Schopenhauer, foi elaborado “como uma dissecação limpa” para conferir uma sistematização formal aos “artifícios desonestos recorrentes nas disputas”. Schopenhauer apresenta 38 estratagemas, lícitos e ilícitos, aos quais é possível recorrer para “obter” razão: para defendê-la quando ela estiver do nosso lado, e para conquistá-la quanto estiver do lado do adversário. Leitura atraente e muito útil: com frieza classificatória, Schopenhauer nos indica “os caminhos oblíquos e os truques de que se serve a natureza humana em geral para ocultar seus defeitos”.

A arte de ter razão

Estou na página 23 desse livro fascinante. Schopenhauer sistematiza os relacionamentos humanos de maneira incrível. É uma leitura um pouco difícil, na qual são apresentados conceitos para o que nós fazemos em nossas disputas, mas tudo é bem explicado e exemplificado e entendemos algumas coisas que nós inconscientemente fazemos e falamos. Como diz Schopenhauer: na discussão não visamos a verdade, mas apenas defender a nossa opinião para satisfazer a nossa vaidade.

A dialética erística é a arte de disputar, mais precisamente a arte de disputar de tal maneira que se fique com a razão, portanto, per fas et nefas [com meios lícitos e ilícitos].

[…]

Se [a maldade natural do gênero humano] não existisse, se fôssemos inteiramente honestos, em todo debate visaríamos trazer a verdade à luz, sem sequer nos preocuparmos se ela corresponde à opinião apresentada de início por nós ou à alheia: seria indiferente ou, pelo menos, totalmente secundário.

Os homens lutam e sofrem por nada

Neste mundo, os homens lutam e sofrem por nada; se encontram prazer, é apenas no fulgurante desatino da batalha… Preciso viver intensamente enquanto posso. Quero experimentar os ricos sucos da carne vermelha e o vinho picante, o aperto quente de braços brancos como o marfim, a loucura do triunfo na batalha, quando as lâminas azuladas queimam e se tingem de vermelho. Isto basta para me alegrar. Que os mestres, os sacerdotes e os filósofos meditem sobre as questões de realidade e ilusão! De uma coisa eu sei. Se a vida é ilusão, também sou uma: a ilusão é real para mim. Eu vivo, estou cheio de vida, eu amo, eu mato, eu sou feliz assim.

(trecho de um conto de Conan, O Bárbaro)

Vi lá no 1001 GatosHoward não era “feliz assim” como seu personagem, já que ele se suicidou…

Bom… Eu me sinto como o Conan, embora enxergue a vida como Nietzsche ou Schopenhauer. Por enquanto, eu vivo, estou cheio de vida, eu amo, eu mato, eu sou feliz assim.

© 2005–2020 Tiago Madeira