O crescimento da internet em todo o planeta expressa a necessidade da nossa geração de experimentar meios de comunicação diferentes dos que a mídia tradicional nos propõem. A sociedade é cada vez mais dependente dessa rede, que conecta as pessoas das mais distantes localidades em tempo real.
A internet não é a mesma de dez anos atrás. Uma conexão hoje é condição necessária para a utilidade de um computador e a rede está cada vez mais presente em diferentes dispositivos, em especial nos celulares. A web é hoje o espaço das aplicações e dos serviços: um espaço virtual aparentemente infinito para onde você faz upload de toda a sua vida. Você usa a internet para ouvir músicas, baixar filmes, editar documentos, conversar com amigos, pagar contas, planejar viagens, organizar calendário, ver mapas, guardar fotos, entre muitos outros usos. Porém, o principal deles continua sendo compartilhar, ou seja, difundir ideias.
Compartilhar sempre foi o cerne da internet. Desde a criação dos primeiros sites pessoais, passando pelos blogs e por ferramentas que auxiliam a sua criação, chegando às mais diferentes ferramentas de redes sociais. Por isso, a disputa da rede é feita através das brigas em torno do compartilhamento: o que pode e não pode compartilhar, o anonimato necessário para compartilhar verdades inconvenientes, a neutralidade dos serviços contra o filtro do que passa e não passa pela rede.
Por um lado, temos aqueles que defendem uma internet mais restrita e com menos liberdade, isso é, com mais cara de TV. A censura do Wikileaks, juntamente com a perseguição a Julian Assange, e os projetos de lei SOPA/PIPA (EUA), Sinde (Espanha), Lerras (Colômbia) e Azeredo (Brasil) foram os casos que mais chamaram atenção nos últimos tempos.
Por outro lado, tecnologias estão sendo construídas e superadas em tempo recorde para tornar o compartilhamento mais fácil. Os levantes recentes no Oriente Médio demonstraram a eficácia da internet em ajudar ativistas políticos e sociais a organizarem protestos, disseminarem informações para o público e enviarem notícias de prisões e repressões ao restante do mundo. Do ponto de vista da tecnologia, o Facebook, pela sua capilaridade, é hoje a maior expressão da internet de curtir e compartilhar.
A rede de Mark Zuckerberg teve papel destacado em importantes acontecimentos sociais e políticos do ano passado. Há vários exemplos. Organização e divulgação dos protestos que culminaram na queda de Hosni Mubarak no Egito. Construção do movimento 15-M da juventude da Espanha e de outros movimentos de indignados por todo o planeta. Surgimento do movimento Occupy Wall Street nos EUA. Aqui no Brasil, difusão de diversos atos contra o aumento da passagem de ônibus, Marcha da Liberdade, Marcha das Vadias, Fora Ricardo Teixeira, entre outros.
A internet de hoje não é a mesma do ano passado. Pelo seu funcionamento democrático e pela sua dimensão global, ela muda muito rápido. Por isso, cabe a nós experimentar o tempo todo novas formas de explorar o ciberespaço para aproveitar todo o seu potencial viralizante e discutir ideias que nos auxiliem na construção de instrumentos de mudança social que organizem mais e mais pessoas ao redor do mundo.
Embora o Facebook seja uma ferramenta de utilidade incontestável, sua hegemonia tem me preocupado. Não pelo motivo que sempre leio por aí (o de estarmos compartilhando toda a nossa vida com uma empresa que não tem uma política de privacidade muito razoável), mas principalmente por outros dois: seu caráter efêmero e seus algoritmos que nos separam em bolhas.
Achar algo que você leu no mês passado no Facebook é um pesadelo. Ainda que você lembre quem foi que compartilhou ou em que grupo, você precisa andar e andar na barra de rolagem até fazer seu cooler começar a gritar de tanto processamento de JavaScript para encontrar o que você queria. No caso de querer encontrar comentários ou uma coisa que você não lembra quem foi que postou, é difícil até imaginar por onde começar. Os posts do Facebook não são indexados por sites de busca e suas mensagens vão ficando sufocadas embaixo de uma pilha que cresce quanto mais você usa a rede social. Por mais que exista a tentativa da linha do tempo para você navegar por anos e meses, é inegável que o Facebook é a rede social do que está acontecendo e não do que aconteceu.
Além disso, sua rede de amigos no Facebook é muito limitada. Primeiramente porque você só pode ter 5000 amigos (mais assinantes, é verdade), mas principalmente porque uma porcentagem muito pequena deles efetivamente vêem o que você posta. Vou dar um exemplo: De julho a outubro publiquei todos os dias atualizações de status sobre as eleições municipais no meu perfil divulgando as propostas dos meus candidatos. Na véspera das eleições, mandei e-mails e mensagens no Facebook para grande parte dos meus contatos pedindo voto neles. Várias pessoas ficaram felizes com a recomendação e disseram que até receberem a mensagem nem sabiam que eu estava envolvido na campanha do PSOL.
Faz sentido. O algoritmo do Facebook provavelmente seleciona postagens de temas que você se interessa (costuma postar, curtir, comentar, compartilhar) para você ler. Os posts sobre banana tendem a ser visualizados por quem gosta de banana. Aí você fica fazendo propaganda de bananas para seus amigos bananeiros. Bom para receber curtidas e melhorar sua auto-estima, ruim se você quer discutir as vantagens da banana com mais pessoas que não são do seu grupo de estudos sobre banana. Além de que tem um monte de gente que gosta de banana, mas nunca vai ver seus posts simplesmente porque não é seu amigo.
Passei os últimos anos escrevendo muito no Facebook. O Facebook certamente é uma ferramenta muito importante, mas estou convencido de que ele tem um potencial infinitamente maior se caminhar junto com a escrita de blogs. Posso citar pelo menos três motivos:
- Os blogs divulgam mensagens menos efêmeras e com mais conteúdo. Por isso, são espaços mais adequados à formulação e ao registro de ideias (que certamente não devem deixar de ir para as redes sociais para serem disseminadas nas bolhas).
- Os blogs são indexados pelo Google. Com isso, aparecem nos resultados das buscas de quem se interessa pelas coisas que escrevemos e seus links fortalecem os sites que queremos difundir para o mundo através do aumento do seu pagerank.
- Os blogs não só enviam mensagens, mas iniciam conversações. Posts em blogs geram não só reflexões, mas comentários, posts em outros blogs e discussões nas redes sociais.
Tenho uma rede de amigos que escreve coisas muito legais nas redes sociais. Debate os temas da atualidade, formula política, faz críticas inteligentes sobre uma porção de assuntos relevantes. Há muitas (bilhões, eu diria) pessoas que não leio no Facebook, que talvez leiam este post e que certamente também têm muito a contribuir para o saudável debate de ideias que precisamos travar o tempo todo para mudarmos as pessoas e mudarmos o mundo. Esses comentários merecem e precisam superar as fronteiras dos algoritmos do Facebook para gerar mais discussão e influenciar outras pessoas. Por isso, escrevo para fazer o convite: escreva um blog e compartilhe suas ideias!
Tem um blog? Compartilhe um link dele nos comentários.