Programas indispensáveis no meu computador

O Tiago Celestino me convidou pra esse meme há… mais de três meses. Antes tarde do que nunca, então lá vamos nós.

Pra começar, a definição de programa é complicadíssima. Pra mim, não adianta ter Firefox se não tenho ifconfig. Da mesma forma, será que uma biblioteca é um programa? Para ter Firefox eu tenho que ter várias libs, que talvez eu não possa nessa brincadeira. E se eu puder escolher um programa sem pensar em nada disso, será que posso escolher o apt-get?

Bem… Parti do princípio de que tenho todas as libs do mundo que eu quiser, não vale apelar pro apt-get e não vale baixar outros programas. Nesse caso, eu escolheria os seguintes três programas pra viver:

Bash

Página oficial

A vida sem terminal não tem graça. Se bem que não sei se vou conseguir usar 1/10 dos recursos do Bash sem programa nenhum, isso é, sem ls, grep, sed… Quem se importa? Ao menos pra chamar o Vim e o Ruby preciso de um shell, e escolho o Bash.

Vim

Página oficial

Editor de texto de macho, sem frescuras. Esse programa me acompanha há anos, não consigo me ver longe dele, suas utilidades são infinitas.

Ruby/IRB

Página oficial

Minha nova linguagem. Tem que vir com documentação, senão eu tô ferrado. Mas já que tenho todas as libs e tempo do mundo, posso desenvolver o que eu quiser e dessa forma depois de algum tempo terei muitos outros programas.

Um navegador talvez até seja indispensável, mas acho que é algo sacrificável, já que tenho o Ruby pra fazer requisições HTTP e que dá pra se virar na unha.

Algo indispensável que eu me esqueci é o SSH. É sempre uma das primeiras coisas que faço questão de ter nas minhas instalações, com ele conecto na Dreamhost e de lá eu governo o mundo. O Wget também faria muita falta assim como um leitor de PDF e um programa pra ouvir música (mpd, sem sombra de dúvidas). Mas acho que nenhum desses é mais importante que os três primeiros.

Respondido?

Passo esse meme para o Ilmo. Sr. Rev. Ibrahim Cesar, Ilmo. Sr. John Artmann Jr. e para o Ilmo. Sr. Vinicius de Figueiredo.

Organizando sua biblioteca de músicas no formato MP3 utilizando Ruby e taglib

Vamos fingir que você é um cara mau que ao invés de comprar CDs legalmente (como eu sempre faço e você também) baixa discografias completas na internet, como por exemplo a do Beatles. Ao terminar de baixar 3 GB com mais de 20 CDs você nota que os arquivos não estão corretamente taggeados e com isso você bagunçaria a organização perfeita do seu computador, do seu iPod ou de qualquer outro aparelho que você use pra ouvir música. O que fazer? Apelar para o Ruby com a Taglib, é claro! (Ubuntu: apt-get install libtagc0-ruby)

Vejam como é simples e adaptem para as suas necessidades:

require "taglib"

`ls BEATLES`.split("n").each do |album|
  `ls "BEATLES/#{album}"`.split("n").each do |filename|
    path="BEATLES/#{album}/#{filename}"

    if filename.match(/mp3$/) then
      file=TagLib::File.new(path)

      a=filename.split(" - ")
      track=a[a.length-2].to_i

      title=a[a.length-1].gsub(/.mp3/, '')
      file.track=track
      file.genre="Pop/Rock"

      file.artist="The Beatles"
      file.album=album
      file.title=title
      file.save
      file.close
    else
      puts "Tem um lixo por aí... Delete '#{path}'!"
    end
  end
end

A criação musical do mundo

Os movimentos celestes nada mais são que uma canção contínua para várias vozes, percebida pelo intelecto e não pelo ouvido; uma música que, por meio de tensões discordantes, síncopes e cadências (…), progride na direção de certas resoluções determinadas, estabelecendo assim certas marcas no fluxo imensurável do tempo. Não é de causar surpresa, portanto, que o homem, imitando seu Criador, tenha, finalmente, descoberto a arte da notação musical, desconhecida dos antigos. O homem desejava reproduzir a continuidade do tempo cósimco dentro de uma breve hora, por meio de uma engenhosa harmonia de várias vozes, a fim de saborear uma amostra do prazer que o Criador Divino tem em Sua obras, e participar de sua alegria fazendo música na imitação de Deus.

(trecho de uma carta de Kepler citada por Arthur Koestler)

Os movimentos celestes como música, a música como imitação de Deus, a música como divina… Este era um pensamento bastante comum na Idade Média que foi deixado de lado com o tempo. Hoje acho que ninguém pensa nisso quando dança funk nas festas por aí.

Figura da música

Tolkien é um escritor que valorizo bastante. Não sou daqueles fãs incondicionais de Senhor dos Anéis, mas acho linda a maneira que ele tem para escrever. Vou colar aqui um trecho um pouco grande do início do livro “O Silmarillion”. Você não precisa ler até o final se não quiser, mas vale a pena ler como Tolkien falava da divindade de seu mundo e de como o mundo foi criado a partir da música.

Havia Eru, o Único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo-lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou. Entretanto, durante muito tempo, eles cantaram cada um sozinho ou apenas alguns juntos, enquanto os outros escutavam; pois cada um compreendia apenas aquela parte da mente de Ilúvatar da qual havia brotado e evoluía devagar na compreensão de seus irmãos. Não obstante, de tanto escutar, chegaram a uma compreensão mais profunda, tornando-se mais consonantes e harmoniosos.

E aconteceu de Ilúvatar reunir todos os Ainur e lhes indicar um tema poderoso, desdobrando diante de seus olhos imagens ainda mais grandiosas e esplêndidas do que havia revelado até então; e a glória de seu início e o esplendor de seu final tanto abismaram os Ainur, que eles se curvaram diante de Ilúvatar e emudeceram.

Disse-lhes então Ilúvatar: – A partir do tema que lhes indiquei, desejo agora que criem juntos, em harmonia, uma Música Magnífica. E, como eu os inspirei com a Chama Imperecível, vocês vão demonstrar seus poderes ornamentando esse tema, cada um com seus próprios pensamentos e recursos, se assim o desejar. Eu porém me sentarei para escutar; e me alegrarei, pois, através de vocês, uma grande beleza terá sido despertada em forma de melodia.

E então as vozes dos Ainur, semelhantes a harpas e alaúdes, a flautas e trombetas, a violas e órgãos, e a inúmeros coros cantando com palavras, começaram a dar forma ao tema de Ilúvatar, criando uma sinfonia magnífica; e surgiu um som de melodias em eterna mutação, entretecidas em harmonia, as quais, superando a audição, alcançaram as profundezas e as alturas; e as moradas de Ilúvatar encheram-se até transbordar; e a música e o eco da música saíram para o Vazio, e este não estava mais vazio. Nunca, desde então, os Ainur fizeram uma música como aquela, embora tenha sido dito que outra ainda mais majestosa será criada diante de Ilúvatar pelos coros dos Ainur e dos Filhos de Ilúvatar, após o final dos tempos. Então, os temas de Ilúvatar serão desenvolvidos com perfeição e irão adquirir Existência no momento em que ganharem voz, pois todos compreenderão plenamente o intento de Ilúvatar para cada um, e cada um terá a compreensão do outro; e Ilúvatar, sentindo-se satisfeito, concederá a seus pensamentos o fogo secreto.

Agora, porém, Ilúvatar escutava, sentado, e por muito tempo aquilo lhe pareceu bom, pois na música não havia falha. Enquanto o tema se desenvolvia, no entanto, surgiu no coração de Melkor o impulso de entremear motivos da sua própria imaginação que não estavam em harmonia com o tema de Ilúvatar; com isso procurava aumentar o poder e a glória do papel a ele designado. A Melkor, entre os Ainur, haviam sido concedidos os maiores dons de poder e conhecimento, e ele ainda tinha um quinhão de todos os dons de seus irmãos. Muitas vezes, Melkor penetrara sozinho nos espaços vazios em busca da Chama Imperecível, pois ardia nele o desejo de dar Existência a coisas por si mesmo; e a seus olhos Ilúvatar não dava atenção ao Vazio, ao passo que Melkor se impacientava com o vazio. E no entanto ele não encontrou o Fogo, pois este está com Ilúvatar. Estando sozinho, porém, começara a conceber pensamentos próprios, diferentes daqueles de seus irmãos.

Alguns desses pensamentos ele agora entrelaçava em sua música, e logo a dissonância surgiu ao seu redor. Muitos dos que cantavam próximo perderam o ânimo, seu pensamento foi perturbado e sua música hesitou; mas alguns começaram a afinar sua música à de Melkor, em vez de manter a fidelidade ao pensamento que haviam tido no início. Espalhou-se então cada vez mais a dissonância de Melkor, e as melodias que haviam sido ouvidas antes soçobraram num mar de sons turbulentos. Ilúvatar, entretanto, escutava sentado até lhe parecer que em volta de seu trono bramia uma tempestade violenta, como a de águas escuras que guerreiam entre si numa fúria incessante que não queria ser aplacada.

Ergueu-se então Ilúvatar, e os Ainur perceberam que ele sorria. E ele levantou a mão esquerda, e um novo tema surgiu em meio à tormenta, semelhante ao tema anterior e ao mesmo tempo diferente; e ganhava força e apresentava uma nova beleza. Mas a dissonância de Melkor cresceu em tumulto e o enfrentou. Mais uma vez houve uma guerra sonora, mais violenta do que antes, até que muitos dos Ainur ficaram consternados e não cantaram mais, e Melkor pôde dominar. Ergueu-se então novamente Ilúvatar, e os Ainur perceberam que sua expressão era severa. Ele levantou a mão direita, e vejam! Um terceiro tema cresceu em meio à confusão, diferente dos outros. Pois, de início parecia terno e doce, um singelo murmúrio de sons suaves em melodias delicadas; mas ele não podia ser subjugado e acumulava poder e profundidade. E afinal pareceu haver duas músicas evoluindo ao mesmo tempo diante do trono de Ilúvatar, e elas eram totalmente díspares. Uma era profunda, vasta e bela, mas lenta e mesclada a uma tristeza incomensurável, na qual sua beleza tivera principalmente origem. A outra havia agora alcançado uma unidade própria; mas era alta, fútil e infindavelmente repetitiva; tinha pouca harmonia, antes um som uníssono e clamoroso como o de muitas trombetas soando apenas algumas notas. E procurava abafar a outra música pela violência de sua voz, mas suas notas mais triunfais pareciam ser adotadas pela outra e entremeadas em seu próprio arranjo solene.

No meio dessa contenda, na qual as mansões de Ilúvatar sacudiram, e um tremor se espalhou, atingindo os silêncios até então impassíveis, Ilúvatar ergueu-se mais uma vez, e sua expressão era terrível de ver. Ele então levantou as duas mãos, e num acorde, mais profundo que o Abismo, mais alto que o Firmamento, penetrante como a luz do olho de Ilúvatar, a Música cessou.

Então, falou Ilúvatar e disse: – Poderosos são os Ainur, e o mais poderoso dentre eles é Melkor; mas, para que ele saiba, e saibam todos os Ainur, que eu sou Ilúvatar, essas melodias que vocês entoaram, irei mostrá-las para que vejam o que fizeram. E tu, Melkor, verás que nenhum tema pode ser tocado sem ter em mim sua fonte mais remota, nem ninguém pode alterar a música contra a minha vontade. E aquele que tentar, provará não ser senão meu instrumento na invenção de coisas ainda mais fantásticas, que ele próprio nunca imaginou.

E então os Ainur sentiram medo e ainda não compreenderam as palavras que lhes eram dirigidas; e Melkor foi dominado pela vergonha, da qual brotou uma raiva secreta. Ilúvatar, porém, ergueu-se em esplendor e afastou-se das belas regiões que havia criado para os Ainur; e os Ainur o seguiram.

Entretanto, quando eles entraram no Vazio, Ilúvatar lhes disse: – Contemplem sua Música! – E lhes mostrou uma visão, dando-lhes uma imagem onde antes havia somente o som. E eles viram um novo Mundo tornar-se visível aos seus olhos; e ele formava um globo no meio do Vazio, e se mantinha ali, mas não pertencia ao Vazio. E, enquanto contemplavam perplexos, esse Mundo começou a desenrolar sua história, e a eles parecia que o Mundo tinha vida e crescia. E, depois que os Ainur haviam olhado por algum tempo, calados, Ilúvatar voltou a dizer: – Contemplem sua Música! Este é seu repertório. Cada um de vocês encontrará aí, em meio à imagem que lhes apresento, tudo aquilo que pode parecer que ele próprio inventou ou acrescentou.

(início de “O Silmarillion”, história da criação do mundo das obras de Tolkien)

Depois de Kepler surgiu Galileu e com ele todas essas idéias medievais foram embora, foram reduzidas à matemática. Criou-se a física e a química. A ciência distanciou-se da fé, tornando-se um ramo teoricamente mais exato. O mundo não foi mais tão musical, o que não significa que ele tenha melhorado, nem piorado. Apenas perdeu a fé na música.

Hoje em dia a religião ocidental é a cientologia, por mais que mais de 90% desta gente se diga cristã. Não existe mais uma fé incondicional, mas uma crença com sentido. Uma crença exata em algo invisível, porque é teórico. Ou então, como o Ibrahim defende e eu concordo, o pop é a nova religião.

Mas afinal, como já perguntei, será que ciência e religião são tão diferentes? Não são simplesmente duas crenças diferentes? Na minha opinião, acreditar é correr perigo de estar errado. Não há como dizer se o mundo é fruto de uma grande explosão, se foi uma música que o criou, ou se ele é somente fruto da minha imaginação. O que você acha?

Lewis Carroll é discordiano

Chega de enrolação. Criei coragem para falar e começarei pelo começo, continuarei depois até chegar ao fim e então pararei.

Alice in Wonderland

O Mal Vicioso vem lhes informar por meio deste post que “Alice no país das maravilhas” não é um livro para crianças por ser simples e não fazer sentido algum. Ele é simplesmente brilhante e talvez as crianças sejam as poucas que conseguem compreendê-lo por ainda estarem na ponta dos pêlos do coelho branco.

Qual a relação entre um corvo e uma escrivaninha? Não precisa responder, apenas pense.

O objetivo de Alice não é informar, mas confundir um pouco afim de fazer pensar. A história é uma grande operação mindfuck confabulada em 1894 e provavelmente inspirada pelo posterior Principia Discordia que foi escrito por Mal-2 nos anos 60.

A lógica do autor é absolutamente absurda e os diálogos e poemas nos levam a pensar: afinal, o que é o louco e o que é o padrão?

Nietzsche escreveu em “Além do bem e do mal” que a loucura é algo raro em indivíduos mas que em certas épocas e sociedades é a norma. Talvez nós é que sejamos loucos e os personagens maravilhosos sejam a realidade. Ou talvez sejamos nós os personagens maravilhosos. Quem sabe?

Eu conheço o segredo

Cometi um pecado: não levei a sério o bom conselho do meu sábio amigo e reverendo discordiano: assisti “O Segredo”.

O Segredo

Foi um filme difícil de ser visto até o final. Trata-se de uma série de repetições de uma mesma afirmação: “pense positivo e tudo de bom lhe acontecerá.”

Auto-ajuda é um saco. Assistir o filme só serviu para me fazer refletir sobre como essa filosofia barata ianque é ridícula.

A Lei da Atração, tema principal (e na verdade o único) do filme, é uma baboseira de um tamanho descomunal: segundo ela, mais de 180 pessoas não pensaram positivo nesta terça-feira e por isto morreram na tragédia do airbus A320 da TAM.

As crianças que vivem com AIDS na Uganda morrem porque não pensam positivamente. Porque, segundo o filme, ninguém que pensa positivo é miserável e a esse alguém não falta nada.

A mensagem é super simples: Quer US$ 100,000? Ora, basta você pensar e acreditar. É um ladrão? Pense que a polícia não lhe pegará e ela não lhe pegará. Quer encontrar seu par perfeito? É só imaginar. Nada depende dos outros, é como se você vivesse no seu mundo e se você desejar o bem tudo de bom magicamente lhe acontecerá.

Sinceramente; pense na sua vida e me diga que a realidade é linda assim. Eu realmente gostaria qfadas onde o bonzinho sempre vence, a princesa encontra o príncipe encantado e tue fosse, mas se os loucos estudiosos de física quântica e visionários que participaram deste pseudofilme não vivessem em bolhas talvez eles pudessem enxergar que não, isso não faz sentido algum.

Trata-se de um conto de odos vivem felizes para sempre. Para fazer o seu filho dormir, esse “segredo” é ótimo mesmo…

O incrível é a quantidade de pessoas que assistem este filme e que levam a sério, acreditam e dão depoimentos como “Eu sou uma pessoa realizada agora que leu/assistiu O Segredo”. Que grande idiotice! Acho que aprendi mais lendo Os Três Porquinhos

© 2005–2020 Tiago Madeira