Ano novo

Aprendo muito na Universidade. Não tanto nas aulas do currículo obrigatório, mas sem dúvidas naquelas que frequento porque realmente quero aprender, principalmente quando essas me desafiam. A falta de desafio nos torna medíocres e foi a falta de desafio que me tirou a vontade de ir para as aulas no semestre passado.

Mais do que na sala de aula, porém, aprendo nas bibliotecas, corredores e gramados. Os espaços de vivência e debates são os locais mais importantes da universidade (e usuários do DaD — diploma a distância — infelizmente talvez nunca experimentem isso). Nestes espaços aprendemos e reproduzimos discursos e ideias que nos fazem pensar e criticar a realidade.

Estes espaços não tem nada de especial e não são exclusivos das universidades, mas acredito que nas universidades é mais fácil criar essas rodas porque há muitas pessoas com interesses em comum. Além disso, eles não se limitam a debates políticos e filosóficos; deles pode surgir um problema puramente matemático.

Sem mais enrolação, vou narrar o fato: Acabou ontem a primeira semana de aulas da USP. Houve recepção aos calouros em todos os cantos do campus e eu passei pelo menos 14 horas todos os dias lá caminhando principalmente entre IME, FAU e FFLCH.

Definitivamente foi uma das semanas mais interessantes que já vivi nesta universidade até o presente momento. Li ótimos livros, participei de ótimas conversas e aulas-debate e conheci várias pessoas muito interessantes. Não vou entrar em detalhes sobre tudo isso, porém, visto que isto foge do assunto que planejei pra esse texto. Pra ser sincero, agora é que percebi: toda essa introdução foi exagerada e criou falsas expectativas para os leitores. Desculpem pelo meu pensamento caótico. Com efeito, sem mais enrolação (agora eu prometo), o ponto que quero chegar é o seguinte:

Sejam a, b e c números naturais. Sejam A e B subconjuntos dos naturais. Seja f : A → B uma função natural bijetora definida por f(x) = a * ⌊x / c⌋ + ⌊(x mod c) / b⌋. Qual pode ser o conjunto A para termos B = ℕ? Qual a função inversa f⁻¹?

Não é um bom problema? Tente resolver antes de continuar a leitura.

Certo. Para manter o texto divertido (e possivelmente confuso, confesso) prosseguirei de trás pra frente.

Tuitei esse problema às 15h de quinta-feira. Antes eu havia passado algumas horas caído por causa do cansaço. Antes eu tuitei que nunca tinha pensado em inversas de funções com módulo. Isso porque eu determinei a inversa dessa estranha função que atribui uma quantidade inteira de dinheiro (em reais) a uma quantidade de cervejas. Cheguei a essa estranha função porque algumas horas antes estava vendendo fichas de cervejas na festa da Calourada Unificada do DCE da USP. Uma cerveja custava R$ 2,00 e três cervejas custavam R$ 5,00.

Simplificando o caminho, agora de frente pra trás: Trabalhar de caixa correndo pra contar dinheiro (havia muita fila) inseriu na minha mente uma estranha função que me permitiu, mesmo com extremo cansaço, criar um problema muito divertido de matemática. (Eu passei o ano passado inteiro no IME e não inventei nenhum problema que eu tenha gostado.)

Agora vem a melhor parte: o problema em linguagem matemática parece assustador para a maioria, mas sua solução é absolutamente trivial se você sabe de onde ele veio e ficar restrito ao caso em que b ≤ c. De fato, concentre-se na venda de cervejas. A pergunta “Qual pode ser o conjunto A para termos B = ℕ?” é equivalente a “Qual os valores que não necessitam troco?” e a pergunta “Qual a função inversa?” é equivalente a “Qual a função que atribui número de cervejas ao seu preço?”

Bem… Não vou me alongar porque escrever recordou-me que preciso resolver o problema pro caso geral. Aproveitem o ano & bons estudos!

Um sermão sobre ética e amor

One day Mal-2 asked the messenger spirit Saint Gulik to approach the Goddess and request Her presence for some desperate advice. Shortly afterwards the radio came on by itself, and an ethereal female Voice said YES?

“O! Eris! Blessed Mother of Man! Queen of Chaos! Daughter of Discord! Concubine of Confusion! O! Exquisite Lady, I beseech You to lift a heavy burden from my heart!”

WHAT BOTHERS YOU, MAL? YOU DON’T SOUND WELL.

“I am filled with fear and tormented with terrible visions of pain. Everywhere people are hurting one another, the planet is rampant with injustices, whole societies plunder groups of their own people, mothers imprison sons, children perish while brothers war. O, woe.”

WHAT IS THE MATTER WITH THAT, IF IT IS WHAT YOU WANT TO DO?

“But nobody wants it! Everybody hates it.”

OH. WELL, THEN STOP.

At which moment She turned herself into an aspirin commercial and left The Polyfather stranded alone with his species.

Este texto é parte integrante do Principia Discordia. É proibido vendê-lo separadamente.

Vergonha

O disciplina é “Princípios de Desenvolvimento de Algoritmos” e ela está sendo ministrada neste semestre pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo Ferreira, participante do grupo de otimização combinatória, diretor nacional da Maratona de Programação e orientador da minha iniciação científica.

A turma é do Bacharelado em Ciência da Computação no IME-USP.

Acabei de receber a seguinte mensagem de um dos monitores:

E-mail recebido no grupo da disciplina MAC122

Preciso dizer mais alguma coisa?

Crepúsculo

Tenho lido diariamente gente grande dirigindo insultos ao livro-filme da moda, Crepúsculo (e sua continuação, Lua Nova). Não gente qualquer, mas amigos inteligentes parecem estar perdendo tempo com isso. Eu, cansado de ler esses comentários, resolvi postar porque preciso perguntar: O que há? Não há nada que mereça mais leitura e críticas atualmente?

Parece-me óbvio que o público-alvo de Crepúsculo (eu assisti o primeiro filme no cinema com minha prima logo que saiu) são meninas pré-adolescentes. Por que gente que está acostumada a ler Machado de Assis ou Carlos Drummond de Andrade preocupa-se a ponto de ler e tuitar insultos ao best-seller infantil? Não seria mais inteligente dirigir suas críticas a uma seção mais adulta da livraria?

É como criticar Diário de Princesa, Harry Potter, Malhação ou Gossip Girl. Não são histórias pra gente grande. As meninas de 13 anos não são idiotas porque gostam; são apenas meninas de 13 anos numa fase em que se apaixonam pela história romântica da menina com os vampiros do livro-filme. A infância é cheia dessas fases (eu gostava de Pokémon quando tinha 9 anos) e não há nada de errado nisso.

Podemos voltar a nos preocupar com coisas mais sérias?

Choro Bandido

Estava com vontade de tocar essa música e resolvi procurar a cifra. É normal eu interpretar algumas notas da cifra de forma diferente pra facilitar tocá-la no piano (em geral minha leitura é muito mais fácil mantendo tríades na mão direita e uma nota aleatória no baixo), mas me surpreendi com como ficou diferente minha cifra mental dessa. De fato achei tão curioso que eu acabei escrevendo-a e resolvi postar aqui.

Abaixo está a primeira parte. Em vermelho a cifra do Cifraclub, em azul a minha.

Dm(7M 9)         Dm7/9       G7/4(9) G7(b5) G7(9 13)
A7/D             Am/D        Dm/G           G7(b5)
Mesmo  que os cantores sejam falsos  como   eu
  G7(#9 b13)  C7M/9        E7(b9)
  G#º/B       Em/C         G#º/E
Serão       bonitas, não importa
      Am7/11      D7(9 #11)
      Am7         B/D
São bonitas as canções
Dm(7M 9)    Dm7/9       G7/4(9)
A7/D        Am/D        Dm/G
Mesmo   miseráveis os poetas
        G7/9         C7M(#5)  C7M
        G7/9/G#      E/C      Em/C
Os seus versos serão bons

F#m7/9                      B7(b9 13)
A7M/F#                      Am/B
Mesmo  porque as notas eram surdas
                         Eº(add9)  E7M/9
                         Eº(add9)  E7M/9
Quando um deus sonso e ladrão
A#m7(b5)                      D#7
Eº/A#                         C#º/D#
Fez     das tripas a primeira lira
       A7/9           G#7M
       Em6/A          Cm/G#
Que animou  todos os sons

PS: Favor não tentar analisar harmonicamente a música pela minha cifra. É apenas uma maneira mais fácil pra eu tocar e provavelmente não é a intenção do compositor, pois de fato há muita coisa estranha que provavelmente só é mais fácil pra quem toca piano (G/G# por exemplo).

© 2005–2020 Tiago Madeira