62 anos da morte de Alan Turing

Hoje completa 62 anos a morte de Alan Turing, personagem fundamental da história da computação e um dos maiores gênios do século XX.

Turing formalizou os conceitos de “algoritmo” e “computação” ao criar a máquina universal abstrata que serve de modelo para nossos computadores digitais.

Além disso, inaugurou a inteligência artificial através de um famoso artigo, “As máquinas podem pensar?”, que propõe um teste que tentamos vencer até hoje.

Não bastasse as contribuições mais teóricas, historiadores estimam que a Segunda Guerra Mundial foi encurtada em dois anos devido aos aliados conseguirem decodificar mensagens criptografadas pela Enigma, operação na qual Turing teve papel determinante.

Porém, apesar da vitória contra os nazistas, da criação do computador e da inteligência artificial, Turing foi submetido à castração química porque a sociedade não aceitava sua orientação sexual. Se envenenou aos 42.

As lutas da população LGBT são necessárias. Todo apoio!

Publicado originalmente no Facebook.

Como copiar textos da Folha e outros sites que não deixam

Alguns sites começaram a abusar de um recurso super interessante do JavaScript para acabar com uma das características mais importantes da Internet: a capacidade de copiar/colar.

O tratamento dos clipboard events (oncut, oncopy e onpaste) deveria servir para permitir que os programadores façam coisas legais quando você copia/cola um texto (por exemplo, um processador de textos online pode inserir/remover formatação), mas tenho visto cada vez mais ele ser usado para adicionar uma mensagem de copyright no final de um texto copiado, impedir usuários leigos de copiarem textos na web e evitar que se cole coisas que você copiou em formulários.

O que mais me incomoda (e que me levou a escrever esta postagem) é que, hoje, quem copia um trecho de uma reportagem da Folha (para guardar, compartilhar numa rede social ou o que quer que seja) acaba colando:

Para compartilhar esse conteúdo, por favor utilize o link http://www1.folha.uol.com.br/fsp/bla-bla-bla ou as ferramentas oferecidas na página. Textos, fotos, artes e vídeos da Folha estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. Não reproduza o conteúdo do jornal em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br). As regras têm como objetivo proteger o investimento que a Folha faz na qualidade de seu jornalismo. Se precisa copiar trecho de texto da Folha para uso privado, por favor logue-se como assinante ou cadastrado.

Não é incrível (e sintomático) que o grupo que gerencia o portal mais importante da Internet no Brasil (UOL) tenha uma concepção tão atrasada da rede? Ok, não dá nem pra dizer que isso nos surpreende depois da censura da Falha e do paywall.

Sem mais delongas: isso merece ser hackeado. Neste post, proponho algumas soluções simples para você poder voltar a copiar e colar no seu navegador como sempre fez. Minha preferida, como sempre, é a última.

Solução trivial para quem usa Linux

Antes de sugerir soluções de verdade, convém observar que quem usa Linux (X11) pode copiar selecionando um texto (sem apertar Ctrl+C ou qualquer outra combinação esdrúxula de teclas) e colar apertando o botão do meio do mouse. Quando se copia/cola dessa forma, o navegador não emite os temidos eventos oncopy/onpaste (ou seja, tudo funciona normalmente).

Rodolfo Mohr também observou que você pode copiar um texto selecionando-o, clicando com a tecla direita na seleção e em “Pesquisar no Google”. Uma aba vai abrir com a pesquisa no Google e você pode copiar o texto lá. É um hack válido, embora incômodo.

Somente Firefox: usando about:config

Se você usa Firefox, pode desabilitar os clipboard events digitando, na barra de endereços, em about:config. Talvez ele diga que é perigoso e peça para você clicar num botão dizendo que sabe o que está fazendo. Pode confiar. Em seguida, procure a chave dom.event.clipboardevents.enabled e clique duas vezes nela para mudar seu valor para false. Reiniciando o navegador, o recurso copiar/colar estará funcionando normalmente (ou talvez nem precise reiniciá-lo).

Extensões (para Firefox, Chrome e Opera)

Não tem o que explicar. Simplesmente clique no nome do seu navegador e instale: Firefox, Chrome, Opera.

Editado em 01/04/2014, 22:30: A extensão que eu havia colocado para Chrome só desabilita o tratamento de eventos onpaste em formulários. Se você conhecer alguma extensão similar a do Firefox ou a do Opera, me avise pelos comentários.

Desabilitando sob demanda via JavaScript

É muito importante ter em mente que aplicações web como processadores de texto podem usar os eventos oncut/oncopy/onpaste para coisas úteis. Por isso, é desejável desabilitar esses eventos somente em sites específicos.

Não encontrei nenhuma extensão que faça isso, mas um código simples em JavaScript para recuperar o comportamento padrão dos eventos em um determinado site (testei no Firefox e no Chrome) é:

all = document.querySelectorAll("*");
fn = function (e) {
  e.stopPropagation();
  return true;
};
for (var i = 0; i < all.length; i++) {
  all[i].oncut = fn;
  all[i].oncopy = fn;
  all[i].onpaste = fn;
}

Se digitarmos isso no console (Shift+Ctrl+J), as funções copiar/colar devem voltar a funcionar.

Userscript

A solução anterior nos permite criar um userscript para desabilitar o tratamento dos eventos apenas no site da Folha:

// ==UserScript==
// @name Permite copiar textos da Folha
// @include http://*.folha.uol.com.br/*
// ==/UserScript==

window.onload = function () {
  all = document.querySelectorAll("*");
  fn = function (e) {
    e.stopPropagation();
    return true;
  };
  for (var i = 0; i < all.length; i++) {
    all[i].oncut = fn;
    all[i].oncopy = fn;
    all[i].onpaste = fn;
  }
};

Portanto, se você quiser copiar do site da Folha sem preocupações (e sem desabilitar os eventos em outros sites), pode instalar as extensões GreaseMonkey (Firefox) ou TamperMonkey (Chrome), e então esse userscript clicando neste link: falha.user.js.

Bookmarlet

Acho o método acima (do userscript) o melhor para copiar da Folha. No entanto, é conveniente ter um método mais genérico. Por isso, criei um bookmarklet, isso é, um pequeno script que podemos executar clicando num botão na barra de favoritos (neste caso, para restaurar o comportamento padrão das funções copiar/colar).

Aqui está ele: Restaurar copiar/colar

Para instalar, arraste esse link para sua barra de favoritos. Para usar, clique sempre que precisar copiar um texto e então copie normalmente.

Viva a Internet!

Como ler documentos do Scribd

Depois de ouvir esse improviso do André Mehmari sobre Odeon e Choro pro Zé, fiquei com vontade de encontrar a partitura desse belo choro do Guinga. Porém, descobri que infelizmente é extremamente difícil encontrar o songbook “A música de Guinga”.

Procurando na rede, encontrei um torrent com um PDF com qualidade ruim e um documento do Scribd com qualidade boa. O problema é que o Scribd tem um paywall para não deixar as pessoas baixarem ou lerem os documentos que seus usuários colocam lá:

Paywall do Scribd.

Percebi que ele passa todas as imagens corretamente para o navegador e só no lado do cliente muda a opacidade das páginas para elas ficarem semitransparentes. Então escrevi um userscript bem simples (usando jQuery por comodidade) para o Greasemonkey (uma dessas extensões indispensáveis do Firefox) para recuperar a opacidade das páginas do texto e, se necessário, remover essa mensagem “You’re reading a free preview”.

// ==UserScript==
// @name Suppress Scribd Paywall
// @include http://*.scribd.com/doc/*
// @require http://code.jquery.com/jquery-2.0.3.min.js
// ==/UserScript==

(function ($) {
  $(document).ready(function () {
    window.setInterval(function () {
      $(".absimg").css("opacity", "1");
    }, 1000);
    $(".autogen_class_views_read_show_page_blur_promo").on("click", function (
      e
    ) {
      $(this).hide();
    });
  });
})(jQuery);

Para usar, é só instalar o Greasemonkey no Firefox e depois baixar o userscript scribd.user.js. Resultado:

Partitura da música Choro pro Zé no songbook do Guinga no Scribd.

Como ler notícias ilimitadas de Folha, Estadão e Globo sem cadastro

TL;DR: Instale o Adblock Plus em seu navegador, entre nas suas opções, peça para adicionar seu próprio filtro e adicione o filtro: *paywall*. Você agora deve ser capaz de ler notícias de Folha, Estadão e Globo sem cadastro. Caso tenha interesse em saber o caminho que levou a solução até aqui, continue lendo o post.


A mídia tradicional mudou a forma como publica na internet. A regra agora é que sem cadastro você só pode acessar um determinado número (pequeno) de notícias. O nome do sistema é paywall. Ao chegar no limite, você recebe mensagens como as seguintes:

Paywall da Folha de São Paulo

Paywall do Estado de São Paulo

Paywall do jornal O Globo

No caso da Folha, só o cadastro pago dá acesso ilimitado. Nos outros, aparentemente um cadastro gratuito é suficiente. De qualquer forma, por que dar seus dados para esses sites saberem quem você é, como navega e o que gosta de ler? Para quem esses sites vão dar essas informações?

Para além da preocupação com privacidade e anonimato, esse sistema funciona como um bloqueio para que as pessoas não possam ler e disseminar as notícias da internet. Torna a circulação de informações mais difícil e o espaço internético mais privado e menos democrático. Por isso, compartilho aqui um pouco sobre o funcionamento do paywall e algumas formas de contorná-lo.


Os sites não querem que buscadores tenham dificuldade de acessar e indexar seu conteúdo. Tampouco querem bloquear endereços de IP, já que a quantidade de pessoas que usa internet via NAT (compartilhando o mesmo endereço de IP com outras pessoas numa mesma rede) é enorme. Por isso, eles fazem todo o controle não no computador deles (servidor), mas no seu computador (cliente).

Para fazer isso, eles contam com a ajuda do seu navegador. Eles mandam a página sempre da mesma forma e o seu navegador é que faz o trabalho sujo. Roda um programa escrito em JavaScript para olhar pros dados que ele mesmo já tinha registrado anteriormente (os chamados cookies). Baseado nesses dados, redireciona você para outra página (no caso de Folha e Estadão, simplesmente coloca um fundo preto semi-transparente em cima do conteúdo do site).

Isso torna não só possível, como trivial contornar o bloqueio. Basta dizer para o seu navegador não registrar cookies, desativar a execução de JavaScript ou rodar outro programa para anular a ação do programa da grande mídia. Abaixo vou mostrar diversas formas de fazer isso usando o Mozilla Firefox, mas em outros navegadores há formas semelhantes de fazer o mesmo. Como sempre, a última forma é a que eu considero melhor.

Usar janela de navegação privada

A forma mais simples de acessar um conteúdo bloqueado é acessar a página numa janela de navegação privada. Para abrir tal janela, basta usar o atalho Ctrl+Shift+P no Firefox (ou Ctrl+Shift+N no Chromium). Como essa janela não vai usar os cookies que seu navegador tem registrado na janela principal, você vai conseguir acessar o conteúdo proibido normalmente (como se nunca tivesse acessado nenhuma notícia antes). Há pessoas que usam só o modo de navegação privada o tempo todo (uma opção razoável para evitar rastreamento).

Remover cookies individuais

No Firefox, você pode usar Editar → Preferências → Privacidade → Remover cookies individuais para remover cookies registrados no seu computador. Se você remover todos, vai sair automaticamente de todos os sites onde está logado. Como seu objetivo é contornar o paywall, você pode remover cookies somente dos sites que deseja acessar (no caso, procurar globo, folha e estadao na barra de busca da remoção de cookies).

Desativar JavaScript

É possível desativar a execução de programas enviados pelos sites que você acessa no Firefox desmarcando a caixa Permitir JavaScript no menu Editar → Preferências → Conteúdo do Firefox. Dessa forma, você vai perder muitas funcionalidades dos sites, mas navegar mais rápido e não ter que encarar paywall algum.

A extensão NoScript do Firefox torna mais fácil ativar/desativar scripts de determinados domínios.

Desativar CSS

Se você não se importar com leiaute e diagramação da página, Exibir → Estilos da página → Nenhum estilo vai fazer tudo ficar feio, mas o texto legível.

Usar extensão Web Developer

Instalar a extensão Web Developer no Firefox torna ainda mais simples remover cookies de um determinado domínio e desativar JavaScript ou CSS (aparece uma barra embaixo da barra de endereço com botões pra executar essas ações).

Remover lightbox

No caso de Folha e Estadão (que sobrepõe um fundo preto semi-transparente e uma lightbox na página ao invés de redirecionar você para outra página como faz o Globo), é possível fazer a lightbox desaparecer (sem mexer nos cookies ou no JavaScript) usando o modo de inspeção (Ctrl+Shift+I), selecionando os elementos que quer remover e adicionando o CSS display:none; neles. Por meio de um userscript do Greasemonkey seria possível automatizar isso.

Forma definitiva (minha preferida): filtros no Adblock Plus

Adblock Plus é uma extensão do Firefox extremamente eficiente para bloquear publicidades e scripts não desejados. Os seguintes filtros bloqueiam os scripts de paywall de Folha, Estadão e O Globo:

||paywall.estadao.com.br^
||estadao.com.br/paywall/*
||www1.folha.uol.com.br/folha/furniture/paywall/*
||static.folha.com.br/paywall/*
||oglobo.globo.com/servicos/inc/payWall.Conteudo.js
||oglobo.globo.com/plataforma/js/*/minificados/paywall/registraConteudosLidos.js

(Depois de escrever, fiquei pensando que talvez seja razoável bloquear simplesmente paywall de uma vez.)

Para usar, basta ter instalado o Adblock Plus, copiar essas regras (todas juntas) e colá-las em Ferramentas → Adblock Plus → Preferências de filtros → Filtros personalizados.

Como a criptografia é uma arma fundamental na luta contra os estados do império

O que começou como um meio de manter a liberdade individual pode agora ser usado por estados menores para afastar as ambições dos maiores.

Julian Assange, The Guardian (tradução: Tiago Madeira)

Os cypherpunks originais eram em maioria libertários californianos. Eu era de uma tradição diferente, mas nós todos procurávamos proteger a liberdade individual da tirania do estado. Criptografia era nossa arma secreta. Foi esquecido quão subversivo isso era. A criptografia era então propriedade exclusiva dos estados, para utilização nas suas várias guerras. Escrevendo nosso próprio software e disseminando-o por toda parte nós libertamos a criptografia, a democratizamos e a espalhamos através das fronteiras da nova internet.

A repressão resultante, sob várias leis de “tráfico de armas”, falhou. A criptografia se tornou padronizada nos navegadores e em outros programas que as pessoas agora usam cotidianamente. Criptografia forte é uma ferramenta vital na luta contra a opressão do estado. Essa é a mensagem no meu livro, Cypherpunks. Mas o movimento pela disponibilidade universal da criptografia forte deve ser feito para fazer mais que isso. Nosso futuro não depende da liberdade de indivíduos sozinhos.

Nosso trabalho no WikiLeaks dá uma profunda compreensão da dinâmica da ordem internacional e da lógica do império. Durante a ascensão do WikiLeaks, vimos evidências de pequenos países intimidados e dominados por maiores ou infiltrados por empresas estrangeiras e influenciados para agirem contra eles mesmos. Vimos expressões da vontade popular negada, eleições compradas e vendidas, e as riquezas de países como a Quênia sendo roubadas e leiloadas a plutocratas em Londres e Nova Iorque.

A luta pela autodeterminação latinoamericana é importante para muito mais pessoas do que as que vivem na América Latina, porque ela mostra ao resto do mundo que isso pode ser feito. Mas a independência da América Latina ainda está engatinhando. Tentativas de subversão de democracia latinoamericana ainda estão acontecendo, incluindo mais recentemente Honduras, Haiti, Equador e Venezuela.

Por isso a mensagem dos cypherpunks é de especial importância para audiências latinoamericanas. A vigilância em massa não é uma questão somente para a democracia e a governabilidade — é uma questão geopolítica. A vigilância de uma população inteira por uma potência estrangeira naturalmente ameaça a soberania. Intervenção após intervenção nos assuntos da democracia latinoamericana nos ensinaram a sermos realistas. Nós sabemos que as velhas potências ainda vão explorar qualquer vantagem para atrasar ou suprimir a eclosão da independência da América Latina.

Considere geografia simples. Todo mundo sabe que os recursos do petróleo dirigem a geopolítica global. O fluxo de petróleo determina quem é dominante, quem é invadido e quem está condenado ao ostracismo por parte da comunidade global. Controle físico mesmo sobre um segmento de um oleoduto produz uma grande potência geopolítica. Governos nessa posição podem extrair enormes concessões. Numa tacada, o Kremlin pode sentenciar a Europa oriental e a Alemanha a um inverno sem aquecimento. E mesmo a perspectiva do Tehran controlar um oleoduto ao leste para Índia e China é um pretexto para a lógica bélica de Washington.

Porém, o novo grande jogo não é a guerra por tubulações de petróleo. É a guerra por tubulações de informação: o controle sobre os caminhos de cabos de fibra óptica que se espalham por via submarina e terrestre. O novo tesouro global é o controle sobre os fluxos de dados gigantes que conectam continentes e civilizações inteiras, ligando as comunicações de bilhões de pessoas e organizações.

Não é segredo que, na internet e no telefone, todas as estradas que saem e chegam na América Latina passam pelos Estados Unidos. A infraestrutura da Internet direciona 99% do tráfego para e da América do Sul sobre cabos de fibra óptica que atravessam fisicamente as fronteiras dos EUA. O governo dos EUA não mostrou nenhum escrúpulo sobre quebrar a sua própria lei ao explorar esses cabos e espionar seus próprios cidadãos. Não existem tais leis contra espionar cidadãos estrangeiros. Todos os dias, centenas de milhões de mensagens de todo o continente latinoamericano são devoradas por agências de espionagem estadounidenses, e guardadas para sempre em galpões do tamanho de pequenas cidades. Os fatos geopolíticos sobre a infraestrutura da internet, logo, tem consequências para a independência e para a soberania da América Latina.

O problema também transcende a geografia. Muitos governos e militares latinoamericanos protegem seus segredos com hardware criptográfico. Isso são caixas e programas que embaralham as mensagens e então desembaralham-as na outra extremidade. Os governos as compram para manter seus segredos em segredo — frequentemente com grandes despesas para o povo — porque eles estão corretamente preocupados com a interceptação das suas comunicações.

Mas as empresas que vendem esses dispositivos caros desfrutam de laços estreitos com a comunidade da inteligência dos EUA. Seus presidentes e altos funcionários são frequentemente matemáticos e engenheiros da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) capitalizando nas invenções que eles criaram para o estado de vigilância. Seus dispositivos são muitas vezes deliberadamente quebrados: quebrados com um propósito. Não importa quem está usando ou como eles são usados — agências dos EUA ainda podem desembaralhar o sinal e ler as mensagens.

Esses dispositivos são vendidos para os países da América Latina e de outros lugares como uma forma de proteger seus segredos, mas são na verdade uma forma de roubar seus segredos.

Enquanto isso, os Estados Unidos estão acelerando a próxima grande corrida armamentista. As descobertas do vírus Stuxnet — e então dos vírus Duqu e Flame — anunciam uma nova era de armas-programas altamente complexas feitas por estados poderosos para atacar estados mais fracos. Seu primeiro ataque agressivo contra o Irã está determinado a minar os esforços iranianos de soberania nacional, um prospecto que é um anátema para os interesses dos Estados Unidos e de Israel na região.

Houve um tempo que o uso de vírus de computador como armas ofensivas era enredo de romances de ficção científica. Agora se tornou uma realidade global estimulado pelo comportamento irresponsável do governo de Barack Obama em violação ao direito internacional. Outros estados vão agora seguir o mesmo caminho, aumentando as suas capacidades ofensivas para se recuperarem.

Os Estados Unidos não são os únicos culpados. Nos últimos anos, a infraestrutura da internet de países como Uganda foi enriquecida por investimento direto chinês. Empréstimos pesados são distribuídos em troca de contratos africanos para as empresas chinesas construírem a infraestrutura de backbones de internet ligando escolas, ministérios do governo e comunidades no sistema global de fibra óptica.

A África está ficando online, mas com hardware fornecido por um aspirante a potência estrangeira. Será que vai ser a internet o meio pelo qual a África vai continuar subjulgada no século XXI? A África será novamente o espaço de confronto entre potências mundiais?

Essas são apenas algumas das formas importantes pelas quais a mensagem dos cypherpunks vai além da luta por liberdade individual. A criptografia pode proteger não somente as liberdades civis e direitos dos indivíduos, mas a soberania e independência de países inteiros, solidariedade entre grupos com causas comuns e projetos de emancipação global. Pode ser usada para lutar não apenas contra a tirania do estado sobre o indivíduo mas a tirania do império sobre estados menores.

Os cypherpunks ainda têm que fazer seu maior trabalho. Junte-se a nós.

© 2005–2020 Tiago Madeira