Passagens em sala

Entidades estudantis têm como costume passar em salas de aula para espalhar eventos, boletins e campanhas. Tenho certeza que fazem isso com a melhor das intenções e concordo que é fundamental que centros acadêmicos e diretórios centrais de estudantes construam seus projetos com todos os iguais que representam. Porém, após pensar um pouco a respeito, cheguei a conclusão que essa é uma péssima modalidade de divulgação (além de um gasto desnecessário de tempo e papel) e aqui explicarei meus porquês.

Antes de mais nada faço questão de lembrar que isso é um blog, portanto sinta-se livre para discordar através da caixa de comentários ou via trackback. Como me ensinou meu amigo Ibrahim Cesar: “A mídia tradicional manda mensagens. Blogs iniciam conversações.”

Iniciarei contando algo que já aconteceu comigo inúmeras vezes, tanto na UFSC como na USP: (e, de cara, peço desculpas porque sou um péssimo narrador)

Estou assistindo uma aula de Cálculo I e o professor acabou de escolher um estranho epsilon para demonstrar o limite de uma multiplicação. Prova finalizada, estou copiando o teorema e contemplando o quadro para buscar compreender de onde o professor tirou o epsilon. Beto, que esteve do lado de fora da sala aguardando o professor acabar a demonstração, entra animado: “Pessoal, eu sou do DCE. Estou aqui para convidar vocês para …”

Você decide:

Possibilidade #0:

Nem ouço o que ele diz. Termino a cópia da demonstração e guardo o panfleto que Beto entregou no fundo da mochila. Mal Beto deixa a sala, o professor continua a aula como se não tivesse sido interrompido, agora escolhendo um epsilon ainda mais estranho para demonstrar o limite de uma divisão. Um mês depois, encontro um panfleto no fundo da mochila e jogo fora sem nem mesmo ler ao perceber que o ato de uma luta que me interessava aconteceu há quase um mês atrás.

Possibilidade #1:

Ouço o que ele diz, mas não entendo direito a ideia da manifestação. É fato que o rapaz do DCE é muito mais politizado que eu. Se o aviso fosse dado num outro ambiente eu faria uma pergunta, discordaria dele, discutiríamos. Na sala, porém, com sua estrutura autoritária e no meio de uma aula de Cálculo, resolvo ficar calado e continuo sem simpatia nenhuma pelos comunistas do movimento estudantil. Também nem paro direito pra pensar, afinal estou no meio de uma aula de cálculo e meu professor não parou um minuto por causa do recado.

Possibilidade #2:

Eu, que não conheço o movimento estudantil (caso contrário já saberia do ato para o qual o rapaz do DCE está me convidando), presto total atenção nele, simpatizo com a ideia, meu professor debate o tema da manifestação logo que Beto sai da sala e depois da aula vou procurar Beto porque resolvi participar do ato e do movimento estudantil.

Se você acha que a possibilidade #2 ocorre, pode parar de ler esse texto que nossos axiomas são muito diferentes pra chegarmos a alguma conclusão comum (i.e., não vivemos no mesmo mundo).

Fato é que a gestão do DCE do ano passado passou em sala inúmeras vezes e eu só dei alguma atenção ao movimento estudantil depois que o conheci com as minhas próprias pernas ao lado do prédio de Letras, na FFLCH. O que prova que esse modelo de divulgação é incapaz de dialogar comigo e provavelmente com a maioria dos estudantes do meu instituto.

Creio que um convite para um debate não pode ser feito num ambiente de missa como as tradicionais salas de aula (o professor falando e os alunos respondendo “Amém” ou “Graças a Deus”), simplesmente porque não combina. Convites pra discussão precisam ser feitos nos corredores, nos gramados, nos intervalos de aula e por meio de uma conversa saudável e não da imposição de uma programação.

É preciso haver muita motivação para um aluno que não se sente diretamente tocado por uma questão e nunca debateu ela resolva participar de uma entidade por causa de uma propaganda na sala de aula. Uma motivação que não existe no mundo que eu considero real. Por isso, acho que as passagens em sala de aula precisam ser repensadas imediatamente por todos que buscam construir um movimento estudantil mais amplo e democrático.

A sala de aula ideal

Sala de aula

“Educai as crianças e não será necessário punir os homens.” (Pitágoras)

Peraí… Como assim educar as crianças?

Minha professora de história, nos últimos cinco minutos de sua aula, jogou uma pergunta à classe: Como deveriam ser as aulas de história? Enquanto uma grande parte dos alunos conversava, várias pessoas se manifestaram e sugeriram idéias diferentes. Fiquei a pensar: como contentar a todos? Como, afinal, seria uma sala de aula ideal?

Após a primeira reflexão, discuti com a professora como é complicado dar aula para uma sala. Existem vários tipos de aluno e cada um está na escola por um motivo e objetivo diferente (entre aqueles sem objetivo). Como juntar todos os alunos, ensiná-los do mesmo modo e avaliá-los da mesma forma? Como é possível dar aula para 40 pessoas tão diferentes uma da outra?

Na verdade o sistema da escola, a maneira como ela é uma obrigação (e as pessoas são empuradas para ela), a avaliação, a nota, o ensino, a juventude e suas metas (ou falta de metas)… tudo torna o processo educativo muito complicado. E ainda há duas questões de extrema importância: o porquê de educar e se realmente todos precisam saber do conteúdo.

Concluí que ninguém deveria estar numa instituição que prega que todos que têm a mesma idade são obrigados a aprender o mesmo conteúdo, no mesmo período, da mesma maneira e serem avaliados igualmente. E sim, eu sei que isso é uma máxima “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Mas mais do que isso, algumas pessoas em especial eu acho que não deveriam estar na escola. Há muita gente com dificuldade de concentração e de aprendizagem do conteúdo escolar…

Seriam eles inferiores? Creio que essa mentalidade está presente na construção da nossa sociedade. Porém, na minha opinião, nem todos nascem para o meio acadêmico e é para ele que a escola forma. Algumas pessoas (e não são nem um pouco inferiores por isso) têm outro jeito e deveriam ser tratadas de outra maneira. É uma pena que todos sejam mandados pro mesmo lugar e tratados como iguais. A igualdade nem sempre é boa, aliás, quase nunca.

Mas refletindo somente sobre a pergunta da Caroline individualmente e de maneira muito egoísta, resolvi que a melhor maneira de eu aproveitar as duas horas e meia semanais de história que temos (três aulas de cinqüenta minutos) é:

  1. Segunda-feira: discussão cultural-filosófica do conteúdo que todos pesquisaram e estudaram final de semana.
  2. Terça-feira: prova sobre o conteúdo que todos estudaram no final de semana e discutiram segunda-feira.
  3. Quarta-feira, quinta-feira: não tem aula de história. A professora corrige a prova.
  4. Sexta-feira: a professora entrega da prova, há uma socialização dos resultados e uma discussão para fechar o conteúdo. Tarefa para segunda-feira: pesquisar sobre um novo conteúdo (professora sugere um tema).
  5. Sábado, domingo: Alunos pesquisam e aprendem sobre o tema que a professora passou.

Já sobre a escola como um todo, sua obrigatoriedade, sua divisão por matérias e por idade, etc. é preciso um outro post, muito maior. Assim que Éris me inspirar escreverei sobre isto.

Briga de rua

Briga

Fim da tarde… Cruzando de carro a Av. Sete de Setembro com a Rua Gil Stein Ferreira uma reunião enorme de pessoas me chamou a atenção. Cerca de 100 meninos e meninas formavam uma circunferência com uns 5 metros de raio; no centro dois moleques brigavam.

A roda gritava, empolgada. A violência estava deixando todos eles felizes, provavelmente todos eles odiavam as crianças que sairiam dali totalmente quebradas.

Em pleno centro da cidade, haviam várias pessoas passando e percebendo a tragédia: alguns continuavam seu caminho, outros paravam para observar melhor, ninguém fazia nada.

Seria hipócrita condenar o povo que não se mexia e alguns até assistiam o espetáculo. Eu e minha família, afim de não perder a hora do café, continuamos no carro a caminho de casa.

Faltou aula, vagabundo? Vai preso!

Uma estudante de 15 anos da cidade alemã de Goerlitz será presa por duas semanas como punição por matar aulas persistentemente, informou o Ministério da Educação do Estado da Saxônia, leste do país, na quarta-feira.

Segundo o ministério, a decisão foi tomada por um tribunal de distrito após dos pais da garota não pagarem uma multa e da estudante se recusar a prestar serviços comunitários.

Uma porta-voz do ministério em Dresden disse que não quer comentar sobre a decisão do tribunal. A adolescente faltou a um número significativo de aulas.

A estudante terá de comparecer a uma prisão para cumprir sua sentença de duas semanas dentro de dois meses, segundo o ministério.

[notícia no Terra]

É o Ministério da Educação educando as crianças… O texto dispensa comentários.

© 2005–2020 Tiago Madeira