62 anos da morte de Alan Turing

Hoje completa 62 anos a morte de Alan Turing, personagem fundamental da história da computação e um dos maiores gênios do século XX.

Turing formalizou os conceitos de “algoritmo” e “computação” ao criar a máquina universal abstrata que serve de modelo para nossos computadores digitais.

Além disso, inaugurou a inteligência artificial através de um famoso artigo, “As máquinas podem pensar?”, que propõe um teste que tentamos vencer até hoje.

Não bastasse as contribuições mais teóricas, historiadores estimam que a Segunda Guerra Mundial foi encurtada em dois anos devido aos aliados conseguirem decodificar mensagens criptografadas pela Enigma, operação na qual Turing teve papel determinante.

Porém, apesar da vitória contra os nazistas, da criação do computador e da inteligência artificial, Turing foi submetido à castração química porque a sociedade não aceitava sua orientação sexual. Se envenenou aos 42.

As lutas da população LGBT são necessárias. Todo apoio!

Publicado originalmente no Facebook.

Resgate de anos de história

No início de 2005, logo antes de começar o Ensino Médio, eu escrevi meu próprio sistema de blog (tipo pra concorrer com o WordPress — só que não) e comecei a blogar no endereço tableless.tiagomadeira.net. Estava empolgado com a ideia de construir uma web semântica, com XHTML e com tableless. Foi um pouco antes do “estouro” da blogosfera que veio com o ascenso do WordPress mais pro final do mesmo ano e pelos dois anos seguintes.

Desde lá e durante todo o ensino médio, eu bloguei muito. No final de 2005, o blog se transformou num WordPress e assumiu o endereço tiagomadeira.net. Além disso, no verão de 2005 para 2006 escrevi um blog-curso de algoritmos para estudar para a Olimpíada de Informática.

Um ano depois, comecei a escrever outro blog em parceria (o Mal Vicioso, com a Carol). E em 2007, passei a participar timidamente ainda de outro (o 1001 Gatos de Schrödinger, do Ibrahim).

Em 2008, quando entrei na UFSC, fiquei um ano completamente sem blogar. Foi provavelmente o meu ano mais longe da internet, devido ao estudo sério de matemática e o treinamento intensivo para a Maratona de Programação (foi nesse ano que nossa equipe se classificou para a final mundial na Suécia).

Quando vim para São Paulo, em 2009, resolvi voltar a blogar. Porém, depois de ter ficado um ano sem dar bola pro meu blog, não me senti confortável em continuar usando ele (além de que fui tentar organizá-lo e acabei perdendo conteúdo sem querer). Aí acabei criando outro no endereço blog.tiagomadeira.com.

O conteúdo do tiagomadeira.net acabou ficando jogado às traças num leiaute terrível com mais publicidade do AdSense do que conteúdo. A mesma coisa aconteceu com o blog de algoritmos, que curiosamente continuou sendo bem visitado (valeu, Google!). E os outros dois blogs (Mal Vicioso e 1001 Gatos) simplesmente morreram.

Vinha pensando há algum tempo em fazer alguma coisa para salvar o conteúdo de todos esses blogs. Até que nesse sábado resolvi botar a mão na massa e toquei esse meu projeto egocêntrico: Escrevi um novo design e exportei/importei os posts de todos os outros blogs para este novo, relendo os posts para corrigir formatação, imagens e links quebrados.

Estou inaugurando este blog com textos dos últimos oito anos, ou seja, que registram acontecimentos interessantes de mais de 1/3 do meu tempo de vida. Encontrei uma porção de coisas legais quando resgatava os posts: angústias, ideias, planos, descobertas. Definitivamente valeu a pena não permitir que isso tudo se perdesse no buraco negro da internet.

Acabei motivado a continuar escrevendo aqui para contar o que ando pensando e para que no futuro eu continue me divertindo com meus velhos projetos. Ansioso para ver se a motivação vai vingar.

43 anos de Internet

Há exatos 43 anos foi escrito o primeiro RFC (Request for Comments), motivo pelo qual muitos comemoramos no dia 7 de abril o nascimento da Internet. Imagino que poucas pessoas já leram ou sabem o que são RFCs fora do meio nerd: em resumo, são simples documentos de texto com não mais de 80 caracteres de largura que regulamentam os protocolos usados na Internet e são fundamentais para o desenvolvimento dos programas que você usa diariamente, inclusive o que você está usando para abrir o meu blog (seja no seu computador, no seu celular, ou no seu óculos).

Traduzi para o português (meio correndo e talvez porcamente; me corrijam se acharem alguma coisa muito errada) e recomendo a leitura do texto abaixo, escrito pelo cara que fez o primeiro RFC e publicado pelo The New York Times há três anos (para o aniversário de 40 anos da Internet). Além do valor histórico, acho que é um texto que tem muito a ver com o debate sobre as possibilidades que a internet do Wikileaks e do Mega Upload nos abre hoje e sobre os valores democráticos da rede, que têm sido duramente combatidos pelo conservadorismo do governo dos Estados Unidos e por iniciativas como a SOPA nos EUA e a Lei Azeredo no Brasil.

Como a Internet obteve suas regras

* Stephen Crocker

Hoje é uma data importante na história da Internet: é o aniversário de 40 anos dos chamados RFCs (Request for Comments). Fora da comunidade técnica, poucos sabem o que são RFCs, mas esses simples documentos moldaram o funcionamento interno da Internet e têm desempenhado um papel significativo no seu sucesso.

Quando os RFCs nasceram, não havia a World Wide Web. Mesmo no final de 1969, havia apenas uma rede rudimentar ligando quatro computadores em quatro centros de pesquisa: a UC Los Angeles, o Stanford Research Institute, a UC Santa Barbara e a Universy of Utah em Salt Lake City. O governo financiou a rede e os cem ou menos cientistas da computação que a utilizaram. Era uma comunidade tão pequena que todo mundo se conhecia.

Muito planejamento e muitas deliberações tinham sido feitos sobre a base da tecnologia da rede, mas ninguém tinha pensado muito no que fazer com ela. Então, em agosto de 1968, um punhado de estudantes e funcionários dos quatro locais começaram a se reunir intermitentemente pessoalmente para tentarem descobrir. (Fui sortudo o suficiente para ser um dos estudantes da UCLA incluídos nessas grandes discussões.) Só na primavera seguinte nós percebemos que deveríamos começar a escrever nossos pensamentos. Pensamos que talvez devêssemos juntar memorandos temporários e informais sobre os protocolos da rede, as regras pelas quais os computadores trocam informação. Me ofereci para organizar nossas primeiras notas.

O que deveria ser uma tarefa simples acabou se tornando um projeto desesperador. Nossa intenção era apenas encorajar outras pessoas a dialogarem, mas fiquei preocupado que soasse como se estivéssemos tomando decisões oficiais ou afirmando autoridade. Na minha cabeça, eu estava incitando a ira de algum professor de prestígio em algum estabelecimento da Costa Leste. Eu estava realmente perdendo o sono com a coisa toda e quando finalmente decidi escrever meu primeiro memorando, que lidava com a comunicação básica entre dois computadores, era madrugada. Tive que trabalhar no banheiro para não incomodar os amigos com quem eu estava hospedado, que estavam todos dormindo.

Ainda com medo de soar presunçoso, rotulei a nota “Request for Comments” (Pedido de Comentários). O RFC 1, escrito 40 anos atrás, deixou muitas perguntas sem resposta e logo se tornou obsoleto. Porém, os RFCs se enraizaram e floresceram. Eles se tornaram o método formal de publicar padrões do protocolo da Internet, e hoje são mais de 5000, todos disponíveis online.

Começamos a escrever essas notas antes que nós tivéssemos e-mail e mesmo antes que a rede estivesse realmente funcionando, então nós escrevíamos nossas visões para o futuro no papel e mandávamos pelo correio. Enviávamos uma impressão para cada grupo de pesquisa e eles tinham que tirar suas cópias.

Os primeiros RFCs variavam de grandes visões para detalhes mundanos, embora o segundo rapidamente tenha se tornado o mais comum. Menos importante do que o conteúdo desses primeiros documentos era o fato de que eles eram disponíveis de forma gratuita e qualquer um poderia escrever um. Em vez de um modelo de tomada de decisão baseado em autoridade, nós confiamos num processo que chamamos de “consenso básico e código em execução”. Todo mundo era bem-vindo a propôr ideias e, se pessoas suficientes gostassem e usassem, o projeto se tornava um padrão.

No fim, todos entendiam que havia uma utilidade prática em escolher fazer a mesma tarefa da mesma forma. Por exemplo, se quiséssemos mover um arquivo de uma máquina para a outra, se você projetasse o processo de uma forma e eu projetasse de outra, então qualquer pessoa que quisesse falar com nós dois teria que usar duas formas diferentes para fazer a mesma coisa. Então houve muita pressão natural para evitar tais inconvenientes. Provavelmente ajudou que naqueles dias nós evitávamos patentes e outras restrições; sem incentivo financeiro para controlar os protocolos, era muito mais fácil chegar a acordos.

Isso foi o melhor para a abertura dos projetos técnicos, e a cultura dos processos abertos foi essencial para permitir que a internet crescesse e evoluísse da forma tão espetacular como fez. Na verdade, nós provavelmente não teríamos a web sem eles. Quando os físicos do CERN quiseram publicar um monte de informações numa forma que as pessoas pudessem facilmente pegá-las e adicionarem às mesmas, eles simplesmente construíram e testaram suas ideias. Por causa do fundamento que colocamos no RFC, eles não tiveram que pedir permissão, ou fazerem quaisquer mudanças nas operações básicas da Internet. Outros logo copiaram-os — centenas de milhares de usuários de computador, então centenas de milhões, criando e compartilhando conteúdo e tecnologia. Isso é a Web.

Posto de outra forma, nós sempre tentamos projetar cada novo protocolo para ser útil tanto para seu próprio fim como para serem um bloco de construção disponível para outros. Nós não pensamos nos protocolos como produtos acabados, mas deliberadamente expusemos suas arquiteturas internas para fazer fácil que os outros os aproveitassem. Isso era a antítese da atitude das velhas redes de telefonia, que desencorajavam fortemente quaisquer acréscimos ou utilizações que elas não haviam sancionado.

É claro que o processo para publicar ideias e escolher padrões eventualmente se tornou mais formal. Nossas reuniões soltas e anônimas cresceram e se semi-organizaram no que chamamos de Network Working Group (Grupo de Trabalho da Rede). Nas quatro décadas desde lá, esse grupo evoluiu, se transformou algumas vezes e hoje é a Internet Engineering Task Force (Força de Tarefa da Engenharia da Internet). Ela tem alguma hierarquia e formalidade, mas não muita, e continua a ser gratuita e acessível a qualquer um.

Os RFCs cresceram também. Eles não são mais realmente pedidos de comentários, porque eles são publicados somente depois de muita examinação. Mas a cultura que foi construída no início continuou a desempenhar um papel importante em manter as coisas mais abertas do que elas poderiam ter sido. Ideias são aceitas e classificadas pelos seus méritos, com tantas ideias rejeitadas como aceitas.

A medida que reconstruirmos nossa economia, espero que tenhamos em mente o valor da transparência, especialmente em indústrias que raramente a tiveram. Seja na reforma do sistema de saúde ou na inovação da energia, as maiores recompensas virão não do que o pacote de incentivo paga diretamente, mas das perspectivas que abrimos para os outros explorarem.

Me lembrei do poder e da vitalidade dos RFCs quando eu fiz a minha primeira viagem para Bangalore, India, há 15 anos atrás. Fui convidado a dar uma palestra no Indian Institute of Science e durante a visita fui apresentado a um estudante que construiu um sistema de software bastante complexo. Impressionado, perguntei onde ele havia aprendido a fazer tudo aquilo. Ele respondeu simplesmente: “Eu baixei os RFCs e li.”

* Stephen D. Crocker escreveu o primeiro RFC há exatos 43 anos.

O dia em que passei na USP

Agora faz quase um mês. Do nada me veio na cabeça e lembrei que preciso registrar. Era 11 de março, quarta-feira. Floripa estava extremamente ensolarada e andar na rua me fazia suar.

O dia corria normalmente. Acordei cedo e fui para a UFSC, porque estava dando aulas de preparação para a OBI para os calouros todos os dias. Estava com muito sono, porque na terça dois amigos tinham vindo à minha casa comer um bife e acabei indo dormir tarde. Não lembro ao certo o que ensinei para os calouros, mas ainda estava no básico de C. Se eu não me engano, foi vetores.

Às 10:00 eu tive aula de H-Cálculo III. As aulas de H-Cálculo são as que mais sinto falta aqui na USP. Era um curso extremamente rigoroso, a ponto de provar todas as propriedades de limites, derivadas e integrais a partir de teoria dos conjuntos e de treze axiomas dos reais. A aula do dia era sobre o Teorema de Bolzano-Weierstrass em Rn\mathbb{R}^n.

Seja SRnS \subset \mathbb{R}^n um conjunto limitado contendo uma quantidade infinita de pontos. Então existe pelo menos um ponto de Rn\mathbb{R}^n que é ponto de acumulação de SS.

A idéia da prova não é muito complexa, mas a prova em si, rigorosa como o professor gostava, é grande. Três horas e cinco páginas de caderno depois, a aula acabou depois da demonstração do Teorema da Interseção de Cantor.

O problema das aulas de quarta do PAM era que perdíamos o horário de almoço. Nesta quarta em especial eu comi um pão de queijo e segui para a sala em que passava o dia na UFSC, a INE513. A INE513 é uma sala que nós [maratonistas] ganhamos com três máquinas (que conjecturo que sejam as mais antigas do departamento). Era um lugar pequeno, mas tinha ar condicionado e era muito bom para passar o tempo e estudar.

No térreo do INE encontrei dois amigos que também estavam indo estudar para a Maratona. Eles falavam com um gringo e eu entrei na conversa. O espanhol estava procurando um freelancer na área de desenvolvimento web para pôr em prática uma grande idéia que ele teve. Ele pediu para usar um computador para me mostrar o que ele queria e levei-o para a INE513. Lá ele explicou durante mais de uma hora o que ele queria e ao fim ficou com meu e-mail para entrar em contato.

Assim que ele foi embora (era por volta das 15:00), resolvi dar uma olhada no site da Fuvest para ver se algum conhecido tinha sido aprovado na quarta chamada.

Não cogitava a hipótese de eu ter sido aprovado, porque minha classificação na carreira de “Engenharia Politécnica e Computação” foi 1322 (enquanto o último colocado da quarta chamada do ano passado tinha ficado com classificação 1181).

Meu desempenho na Fuvest

Porém, para minha surpresa, meu nome estava na lista. Minha primeira frase foi:

“Vinícius, passei no IME!”

Ele não acreditou. Ninguém acreditaria. Nem eu acreditava. Meus planos pro primeiro semestre já estavam feitos lá na UFSC e minha grade de horários só tinha aulas boas: H-Cálculo III, H-Álgebra Linear III e Álgebra I.

Liguei para os meus pais e para a minha namorada. Mandei e-mails para os meus irmãos e para meus tios paulistanos que me abrigaram durante várias provas de vestibular e transferência nos dois anos anteriores.

Parei pra ler o manual da Fuvest, em especial a parte de matrículas. Descobri que deveria estar em São Paulo na sexta-feira, 13. Ou seja, deveria sair correndo.

Eufórico, perdi mais algum tempo com o manual e saí andando pela UFSC em busca dos documentos necessários. Por um ato falho, cheguei até a porta da aula de Álgebra, mas não cheguei a entrar.

Conseguir a desmatrícula na UFSC foi difícil. Eu devia um real para a biblioteca e só podia pagar através de uma Transferência para a Conta Única do Tesouro Nacional, i.e., deveria enfrentar a fila do caixa do Banco do Brasil. Na quarta não consegui mais nada, mas fiquei até umas 21:00 na INE513 conversando com meus colegas da UFSC Time Limit Exceeded.

No dia seguinte acordei cedo novamente e, após mais uma aula para calouros e a desmatrícula na UFSC, almocei com meus amigos na Pizza Hut. Logo depois do almoço “de despedida”, num sol de rachar, saí de casa com tudo que consegui e peguei um ônibus para Itajaí, de onde no mesmo dia partiria para São Paulo e para uma nova vida.

São Paulo - Consolação (crédito: Jefferson Breves/flickr)

Suspeito

Cruzamento da Teodoro Sampaio com a Faria Lima. Uma garota está andando sozinha. Percebe que está sendo seguida. Ouve uma voz masculina. “Ei! Moça!” Finge que não é com ela. Acelera o passo. O indivíduo também.

“Ei, moça! Moça! Espere!”

Resignada, ela vira, mantendo distância. Olha para os lados para procurar segurança, por fim encara quem a chamou. Está com a barba mal feita, mas tem cara de estudante. Usa uma mochila.

“Você deixou cair um real.”

Ela respira aliviada e agradece. Tiago lhe entrega a moeda e segue para o ponto de ônibus. Não é a primeira vez que alguém lhe ignora. Pensa que o povo dessa cidade é muito desconfiado.

© 2005–2020 Tiago Madeira