Sobre o blog

Mantenho um blog desde 2004. É uma maneira interessante de exercitar a escrita, a criatividade e encontrar pessoas com gostos semelhantes. Já fiz vários amigos blogando. O meu antigo blog chegou a ser o segundo resultado do Google ao procurar por “tiago”. Tive vários leitores. Até que cansei de escrever.

O problema de escrever durante anos no mesmo blog é que o blogueiro muda. Em cinco anos minha forma de pensar e de agir mudou, meus gostos mudaram e por isso não fazia sentido continuar escrevendo naquele blog. Meu jeito de escrever mudou. Foi por isso tudo que cansei de escrever lá.

Além disso, aquele blog virou um espaço de prostituição. Em 2007 houve uma febre de Adsense na blogosfera e todos queriam ter blogs rentáveis. Eu vendi meu blog e me vendi. Faturei (e ainda faturo) uns 50-60 dólares por mês. Não vale a pena se prostituir por tão pouco.

Penso que ainda tenho muito a falar. E que não poderia deixar de escrever. Por isso, resolvi criar este novo blog. Um blog que tem como objetivo não ter publicidade, não ter centenas de milhares de visitantes por dia, mas ser um local onde eu possa escrever sobre as coisas que vejo e conhecer pessoas interessantes.

Para que esta segunda motivação funcione, preciso de seus comentários. Numa web interativa como a que vivemos, não faz sentido você apenas ler o que escrevo. Isso é semelhante a assistir televisão. Aproveite esse espaço para falar. O Ibrahim sempre dizia que a mídia manda mensagens, blogs iniciam conversações. Concordo piamente com ele.

Antes que eu me alongue muito, peço desculpas porque meu português está terrível. Passei o ano passado inteiro estudando matemática pura (apenas definições e teoremas) e lendo livros de análise. A escrita de meus professores me afetou muito e acho que foi negativamente. De fato, até meu vocabulário mudou muito. Talvez este blog me ajude a escrever melhor. Veremos.

Sem mais delongas, seja bem-vindo e sinta-se em casa.

A derrota é opcional

Um senhor idoso vivia sozinho em sua casa. Ele queria virar a terra de seu jardim para plantar flores, mas era um trabalho muito pesado. Seu único filho, que sempre o ajudava nesta tarefa, estava na prisão. O homem então escreveu a seguinte carta ao filho:

“Querido Filho…
Estou triste pois não vou poder plantar meu jardim este ano. Detesto não poder fazê-lo porque sua mãe sempre adorava flores e está na época do plantio. Mas eu estou velho demais para cavar a terra. Se você estivesse aqui, eu não teria esse problema, mas sei que você não pode me ajudar, pois está na prisão.

Com amor,
Seu pai.”

Pouco depois o pai recebeu o seguinte telegrama:

“PELO AMOR DE DEUS, pai, não escave o jardim! Foi lá que eu escondi os corpos!!!”

Como as correspondências eram monitoradas na prisão, às quatro da manhã do dia seguinte uma turma de agentes da polícia apareceram e cavaram o jardim inteiro, sem encontrar nenhum corpo. Confuso, o velho escreveu uma outra carta para o filho contando o que acontecera. Esta foi a resposta:

“Pode plantar seu jardim agora, pai. Isso é o máximo que eu posso fazer no momento.”

Moral da história: Nada como uma boa estratégia para conseguir o que seria impossível. Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional.

Achei no Falcon Dark, já faz um tempinho…

Hugo Chávez: socialismo ou morte

Hugo Chávez: Pátria, socialismo ou morte, eu juro!

Ao longo do discurso, ele deu alguns exemplos do que deve entender-se por socialismo do século XXI, quando indicou que é um sistema baseado nos princípios básicos do cristianismo, as idéias pré-socialistas de Simón Bolívar e a doutrina básica de Karl Marx.

Para avançar até este novo modelo econômico e político, Chávez iniciará seu novo período solicitando poderes especiais a Assembléia Nacional para emitir durante um ano decretos com força de lei.

Mediante este sistema de legislação ele pretende realizar, entre outras idéias, a nacionalização de empresas de eletricidade, telecomunicações e outros setores considerados estratégicos.

[…]

“No hay que tenerle miedo al socialismo, cardenal, más bien deberían asustarse con el capitalismo”, afirmou Chávez que leu várias passagens dos livros dos apóstolos para argumentar a favor de sua tese de que os primeiros cristãos tinham formas de organização socialistas e, inclusive, comunistas.

Tradução livre (podem me corrigir, eu sei que meu espanhol não é dos melhores) do Univision.

Hugo Chávez obteve 63% dos votos e foi reeleito presidente venezuelano. Em seu discurso de hoje, disse que agora começou a era da construção do socialismo na Venezuela. Citando Jesus Cristo e Fidel Castro, o presidente pediu a reeleição indefinida e que tivesse poderes especiais para emitir decretos com força de lei.

Vários outros políticos de esquerda no mundo dizem ter idéias comunistas durante a campanha (inclusive o brasileiro), mas no poder são corrompidos ou se acostumam com a vida boa do capitalismo. O presidente venezuelano mostrou que é diferente. Eu não sou fã do socialismo, mas dou todo meu apoio para Hugo Chávez. Eu estaria muito orgulhoso agora se fosse venezuelano, porque independente de todo o resto do mundo, das idéias de um monte de conservadores e até sabendo que no início ele terá vários problemas a enfrentar, ele aceitou o desafio e resolveu cumprir o que prometeu (e o que obteve 63% de votos prometendo!)

Hugo Chávez mostrou que vai mudar a Venezuela. Se suas mudanças são boas ou ruins, eu não sei. Mas ele quer mudar, ele agiu diante de toda a insatisfação dos venezuelanos com a situação atual. E assim ele fez história. Que ele sirva de exemplo pro resto do mundo!

Ah… E Jesus Cristo? O cristianismo merecia um post especial! Bom… O Ibrahim já falou sobre isso. Gente extremamente contraditória… Jesus foi um cara cheio de idéias socialistas. O papa deve estar de cabelo em pé lá na sua mansão milionária no Vaticano ao ouvir tais palavras, mas é a mais pura verdade. Embora os cristãos sejam ricos, conservadores e capitalistas; os ensinamentos cristãos são socialistas; são de humildade, solidariedade e igualdade.

Vai trabalhar, vagabundo!

“Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.” (Gênesis, 3:19)

Quando você pensa no futuro, o que vem à sua mente? A não ser que você tenha sido criado em outro planeta ou em outros tempos, a sua resposta é: trabalho. É com trabalho que conseguimos dinheiro, pra poder descansar. É uma lógica tão estúpida que não sei como ainda funciona.

Vai trabalhar, vagabundo Vai trabalhar, criatura Deus permite a todo mundo Uma loucura Passa o domingo em familia Segunda-feira beleza Embarca com alegria Na correnteza

Prepara o teu documento Carimba o teu coração Não perde nem um momento Perde a razão Pode esquecer a mulata Pode esquecer o bilhar Pode apertar a gravata Vai te enforcar Vai te entregar Vai te estragar Vai trabalhar

Vê se não dorme no ponto Reúne as economias Perde os três contos no conto Da loteria Passa o domingo no mangue Segunda-feira vazia Ganha no banco de sangue Pra mais um dia

Cuidado com o viaduto Cuidado com o avião Não perde mais um minuto Perde a questão Tenta pensar no futuro No escuro tenta pensar Vai renovar teu seguro Vai caducar Vai te entregar Vai te estragar Vai trabalhar

Passa o domingo sozinho Segunda-feira a desgraça Sem pai nem mãe, sem vizinho Em plena praça Vai terminar moribundo Com um pouco de paciência No fim da fila do fundo Da previdência Parte tranquilo, ó irmão Descansa na paz de Deus Deixaste casa e pensão Só para os teus A criançada chorando Tua mulher vai suar Pra botar outro malandro No teu lugar Vai te entregar Vai te estragar Vai te enforcar Vai caducar Vai trabalhar

(Chico Buarque)

O trabalho do “proletário” como existe hoje surgiu com a Revolução Industrial, no século XVIII. É engraçado que, quando estudamos esse período na escola, todos adoram criticá-lo; parece que faz parte de uma realidade distante e que hoje ninguém é proletário. Ninguém pensa no hoje e na nossa situação, porque todos estão conformados.

Antes do proletariado surgir, existiam outras formas de trabalho, como os artesãos e os escravos. Os artesãos trabalhavam por eles mesmo, não para burgueses. Os escravos trabalhavam para um senhor, mas esse site explica bem a diferença entre o proletário e o escravo:

Como se diferencia o proletário do escravo?

O escravo está vendido de uma vez para sempre; o proletário tem de se vender a si próprio diariamente e hora a hora. O indivíduo escravo, propriedade de um senhor, tem uma existência assegurada, por muito miserável que seja, em virtude do interesse do senhor; o indivíduo proletário – propriedade, por assim dizer, de toda a classe burguesa -, a quem o trabalho só é comprado quando alguém dele precisa, não tem a existência assegurada.

O trabalho não é uma necessidade. Quem não trabalha não é vagabundo. A própria palavra “trabalho” vem de “tripalium” e lembra tortura, sofrimento. A nossa mentalidade é baseada em uma série de conceitos que foram se formando ao longo do tempo e que pouca gente pára pra pensar se estão certos.

Qual é a solução? Um comunismo? Não sei, acho que não, mas também não tenho a resposta. Cada um pode decidir por si só, mas acho que do jeito que tá não é legal. Passamos a vida “escravos” de um sistema por dinheiro. Pensem bem: isso não faz sentido! Tem coisas muito melhores pra se fazer e pra se ter na vida. Às vezes parecemos retroceder em vez de evoluir. No fim, o que é importante?

Ninguém jamais deveria trabalhar. O trabalho é a fonte de quase todos os sofrimentos no mundo. Praticamente qualquer mal que se possa mencionar vem do trabalho ou de se viver num mundo projetado para o trabalho. Para parar de sofrer, precisamos parar de trabalhar.

(Hakim Bay)

Mundo absurdo

Ver as estrelas? Quem se incomoda? Quem tem tempo? Quem sabe? Para ver é necessário saber… Aos poucos elas se vão do espaço, pela luz elétrica e pela fumaça. E o céu perdeu o encanto. Os deuses e anjos que lá moravam foram expulsos. O firmamento foi, assim, separado do nosso destino, a não ser para aqueles que ainda acreditam na astrologia… A ciência desencantou, tirou o encanto, a magia, a aura sagrada do universo.

Que distância entre nós e Galileu! Galileu foi levado à Inquisição por afirmar que os astros estavam arrumados de uma forma diferente da tradicionalmente acreditada. E isso fez com que almas tremessem, lá no fundo, porque a ordem do céu estava ligada ao sentido da vida. Hoje, pouco importa como girem os astros, pouco importa que haja buracos negros no universo e que a luz siga caminhos curvos ou retos. As maravilhas e os enigmas do universo nada têm a ver com os caminhos do homem. O firmamento deixou de falar. Dele não mais vêm nem os sinais dos deuses, nem os sinais para os namorados. Tudo ficou frio.

(Rubem Alves em “Filosofia da ciência: Introdução ao jogo e suas regras”)

Será a ciência dos céticos mais lógica que o senso comum? Faz mais sentido acreditar na ciência do que na religião? Por que um monte de teorias válidas até agora são consideradas “verdadeiras” se nem temos como comprová-las e se nem compreendemos como funcionam? E se a qualquer momento alguém pode aparecer e provar que não é verdadeira?

As respostas do cético são tão absurdas quanto as do religioso. Boas mesmo são as perguntas, que só o filósofo é capaz de fazer.

Ainda do Rubem Alves:

Religião, milagres, astrologia, magia: não são todos absurdos que as pessoas de senso comum freqüentemente aceitam?

O que é um absurdo? O mundo de cada um é sempre lógico do seu ponto de vista.

Imagine-se vivendo na Idade Média. A Terra está no centro do universo; nas profundezas está o inferno e o demônio (e seus vapores sulfurosos até escapam pelos vulcões); tudo está calmo, fixo e tranqüilo; lá em cima giram as estrelas fixadas numa esfera cristalina. Todos sabem que essa é a verdade, e a experiência cotidiana o confirma.

Aí um indivíduo diz que a Terra gira em torno de si mesma e em torno do Sol. Isso não é absurdo?

As marés acontecem porque a água é puxada pelo Sol e pela Lua. Mas como? Haverá cordinhas invisíveis? Dizer que é a força da gravitação não resolve, porque é o mesmo que dizer que uma coisa puxa outra sem fios materiais que as unam. Seja honesto: você entende como isso acontece? Se não entende, por que acredita?

Todo mundo sabe que a tendência de qualquer movimento é o repouso. Pêndulos param, bolas param, automóveis sem gasolina param. Mas o princípio da inércia diz que a tendência do movimento é continuar-se, indefinidamente. Isso não soa absurdo?

Anote isso: é a ciência e não o senso comum que parece ser o mais absurdo.

© 2005–2020 Tiago Madeira